sexta-feira, 3 de julho de 2015

A comunicação social que temos

Vasco Lobo Xavier
Uma das piores coisinhas de Portugal é a comunicação social que tem. É simplesmente uma vergonha! Quando a realidade não é como ela quer, toca de a alterar. Dois casos num só. Relativamente à situação das negociações com a Grécia, o Ministro das Finanças francês disse à RTL que “os mais duros não são os alemães, mas os pequenos partidos”, indicando mesmo e logo ali a Eslovénia e a Eslováquia. A comunicação social portuguesa esqueceu-se dessa referência, ou omitiu-a deliberadamente, e sugeriu ou declarou mesmo que dentro desses pequenos países estaria Portugal. Logo, essa comunicação social ou mente declaradamente aos seus leitores ou é manifestamente incompetente, não sendo capaz de traduzir uma notícia até ao fim. Em qualquer dos casos, é uma vergonha. 

Não contente, o jornal Público veio hoje admitir que Portugal não integrava esse grupo, mas como isso não cola com a realidade que vai na cabecinha da jornalista Leonete Botelho, logo se adianta que Portugal não está entre os bons nem entre os maus, “quando muito foram os vilões”. E porquê? Porque, segundo a sua fonte em Bruxelas (deve ser o Manneken Pis, só pode…), esta posição moderada de países como Portugal, de apoiar a coisa e esperar pelo resultado do referendo grego, não faz destes países “bonzinhos” porque “o que Portugal, Espanha e Irlanda querem é colocar Tsipras em maus lençóis, pois qualquer que seja a resposta ao referendo, coloca o ónus sobre a Grécia, e não sobre a Europa”. E continua o seu extraordinário raciocínio: “Se vencer o sim à manutenção no euro, isso desautorizará o governo do Syrisa. Se vencer o não, a responsabilidade por uma eventual saída do euro será assacada unicamente aos gregos”, e não às instituições europeias.

Leonete Botelho não se apercebeu da completa estupidez do raciocínio que fez imprimir no Público, seja ele da própria jornalista ou da sua fonte (seguramente imprópria para beber, como qualquer criança perceberia em segundos): Portugal, Espanha ou a Irlanda não têm nada a ver com o referendo! Foi o próprio Syriza quem se colocou nessa situação de se correr o bicho pega, se ficar o bicho come! Se quer o sim quer o não são maus para o governo grego, talvez os garotos que o governam devessem ter pensado nisso antes de interromper as negociações para ir fazer o referendo. É evidente que com o referendo que o Syriza quis, qualquer que seja o resultado as consequências foram determinadas pelo povo grego e pelo Syriza. Acusar Portugal, Espanha ou a Irlanda disso é estupidez pura. Ou mentira descarada. Em qualquer das hipóteses, uma vergonha.

Segundo caso. Ouvia distraidamente a RTP i quando, pelas 21h35, de hoje, mais de 24 horas depois de se saber que Portugal não estava na mente do Ministro francês, que ele tinha até referido outros países, que toda a gente minimamente informada sabia disto, esta RTP i vem com a mesma notícia, acusando Portugal de ser mauzinho, tomando até declarações de António Costa, muito incomodado com o assunto. É uma vergonha, tamanha incompetência! Às 21h35 do dia 2 de Julho já toda a gente sabia que isso não era notícia, ou era notícia falsa! Não há ninguém na RTP i que tivesse reparado nisso e a retirasse da grelha? Eu fico sempre na dúvida se este tipo de casos é pura incompetência ou má-fé declarada, mas sempre uma vergonha!

(adenda: às 24h26, ou seja, às 00h26 do dia 3 de Julho, a RTPi volta a dar a mesma "notícia". Incluindo o Ministro francês e tudo, com as mesmas omissões e imperfeições e falsidades, até com as opiniões de António Costa sobre uma mentira. E nós, pobres contribuintes, ainda temos de pagar esta incompetência total. É bonito.)
Título e Texto: Vasco Lobo Xavier, “Corta-fitas”, 3-7-2015

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