J.R. Guzzo
A França está colhendo o que
plantou em matéria de terrorismo. Não é, naturalmente, a única nação da Europa
que sofre com os assassinatos cometidos por delinquentes que são apresentados
ao público como “muçulmanos fanáticos”. Mas é a que mais está sofrendo – e caiu
nessa situação em consequência direta da opção que seu governo e suas elites
tomaram diante da barbaridade imposta aos franceses. As forças políticas e
sociais que mandam na França decidiram tratar esses horrores como um problema
“cultural” – uma inconveniência que vem “da história”, como resultado natural
das injustiças que os muçulmanos sofreram no tempo das Cruzadas, 900 anos
atrás, ou das épocas em que foram “colonizados”, ou em outros episódios do
passado remoto. Por conta disso, têm de ser vistos com “compreensão”, dentro de
uma “perspectiva histórica ampla”, quando degolam senhoras que tinham ido rezar
na igreja, ou professores à saída das aulas. Querem parecer civilizadas; acabam
sendo apenas covardes, e convidando outros homicidas a fazerem a mesma coisa.
Os assassinos não são tratados com delicadeza e muito menos são soltos pelo ministro Marco Aurélio lá deles: ao contrário, em geral levam chumbo grosso da polícia logo no primeiro minuto de confronto e, se são presos, não têm direito à proteção do ministro Fachin para as suas visitas íntimas; aliás, não há visitas íntimas. Não se trata de impunidade, portanto. O veneno está na atitude básica diante do horror – as autoridades, do presidente da República para baixo, a maior parte da mídia e mais muita gente boa estão certas de que a chave mestra para desfazer a calamidade é o diálogo, o entendimento das teologias não cristãs, o conhecimento do Corão, a aceitação da “diversidade” e, no fim das contas, a expiação de pecados cometidos séculos atrás.
A imensa maioria dos muçulmanos, na verdade, não está sentindo falta de nada disso; não quer pedidos de desculpas, nem se acha vítima, nem cobra o acerto de contas incorridas no ano de 1095. Quem usa tudo isso como argumento para matar pessoas indefesas (eles nunca atacam quem pode se defender) são marginais, desajustados mentais e sociopatas que têm prazer em derramar sangue – e inventam motivos religiosos e políticos para fazer isso. Quando matam a velhinha na igreja, não estão sendo “islâmicos”, como acha Macron; estão sendo apenas criminosos. O “islamismo” não tem nada a ver com isso. O que tem tudo a ver, isso sim, é a atitude de aceitar agressões estúpidas à vida e à liberdade de pensamento em nome de uma sociedade “plural”.
Os criminosos não querem saber de pluralidade nenhuma. Exigem o Islã e as mesquitas, apenas; são eles que não admitem a liberdade de religião e as igrejas cristãs. Não é “a direita”, como supõem o governo francês e a esquerda mundial, que “sataniza” os muçulmanos; são os extremistas que se declaram como inimigos abertos da França, das suas leis e dos seus valores nacionais. É um despropósito. Eles são imigrantes, que estão lá por tolerância do governo e da população; deveriam estar agradecidos pela acolhida, e não revoltados contra quem os recebeu. Seria como se a França, durante a última guerra, adotasse um programa de imigração para os invasores nazistas. Vamos trazer os inimigos para casa; viva a diversidade.
O governo francês diz que está sendo democrático. Conversa. Quando manda a polícia expulsar cidadãos sentados à uma mesa de café para cumprir o seu precioso “lockdown” ninguém se lembra de democracia nenhuma. O problema, aqui, se chama covardia. Países que têm medo de defender os seus valores acabam não merecendo a liberdade que querem ter.
Título e Texto: J.R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S.Paulo, em 1º de novembro de 2020, via revista Oeste
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