quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Mamadou/Ljubomir: descubra as diferenças. As nossas, claro

Mamadou é ativista, Ljubomir cozinheiro. Os cozinhados de Ljubomir, caríssimos, só paga e come quem quer. Já a retórica inflacionada de Mamadou somos obrigados a ouvir e pagar 

Helena Matos 

Foto: Tiago Miranda

Dizer que Ljubomir, não estando de acordo com as medidas tomadas pelo governo português, deve fazer a mala e voltar para a parte da Jugoslávia onde nasceu é uma atitude consequente e legítima da boa cidadania. Defender que Mamadou devia ir para a terra onde nasceu – o Senegal – em vez de estar aqui num país onde só vê racistas e colonialistas é promoção do discurso de ódio e racismo.  Primeira diferença: se o nascido em terra alheia disser mal do PS ou questionar algo que possa beliscar o extraordinário acerto do nosso atual governo não merece viver entre nós. Pelo contrário devemos penitenciar-nos diante de um nascido noutra parte do mundo desde que este diga mal da História de Portugal.

Quando Mamadou diz que há que matar o homem branco estamos perante uma metáfora. Já Ljubomir ao comparar o primeiro-ministro português com Milosevic comete um inqualificável e literal insulto. Segunda diferença: as metáforas são um privilégio dos ativistas promovidos pela esquerda. 

Perguntar de que vive Mamadou ou referir quanto lhe tem sido pago pelo estado português é uma atitude logo vista como persecutória e obviamente nunca colocada nos devidos termos. Por exemplo, o Polígrafo explicou que a frase que dizia que Mamadou “fez negócios com a Câmara de Lisboa no valor de 157 mil euros” era falsa. Não porque Mamadou não tivesse de facto recebido os tais 157 mil euros mas porque “o meme difunde uma falsidade ao referir-se a “negócios” que consistem afinal em remunerações por trabalho realizado de assessoria ao Grupo Municipal do BE junto da Assembleia Municipal de Lisboa.” Percebido? Mamadou recebeu a quantia em causa, mas não foi um negócio. 

É de facto aqui que está o busílis da questão, ou parte dele: Mamadou é ativista, sendo que parte da sua atividade consiste em culpabilizar-nos por aquilo que fizeram os portugueses dos séculos XV e XVI. Por estranho que pareça, Mamadou consegue não só dinheiros públicos para levar a cabo essa sua atividade como questioná-la nos transforma automaticamente em proprietários de navios carregados de escravos ou seus descendentes diretos. 

Pelo contrário o senhor Ljubomir, que viveu a guerra da Bósnia e da qual foi refugiado, optou por não fazer modo de vida da culpabilização dos países europeus pelo desastre jugoslavo (no século XX e não no XV), e tornou-se empresário. Terceira diferençaa pátria socialista paga ao ativista e desconfia do empresário. Devemos desconfiar dos empresários, de todos eles, mas sobretudo dos pequenos empresários. 

Devemos respeitar o ativista desde que a atividade do ativista seja a desconstrução da nossa sociedade ocidental, de raiz cristã. (Aliás fora dessa estrita área nada mais interessa ao ativista. Por exemplo, apesar da fixação que Mamadou Ba mostra pelo escravagismo nunca até agora se interessou pelo papel dos diversos chefes e reis africanos ou dos mercadores muçulmanos no tráfico de escravos a partir de África. Muito menos o vimos ou ouvimos abordar o destino dos pescadores algarvios, habitantes do litoral, tripulações e passageiros de navios sequestrados por piratas na costa portuguesa e levados como escravos para Argel. Fora da culpa do homem branco e cristão não há ativismo.) 

Podemos continuar a elencar as diferenças que estabelecemos quando nos relacionamos com estes dois imigrantes que entretanto conseguiram a nacionalidade portuguesa. Mas há que ter em conta que essas diferenças dizem muito mais sobre o país que somos do que sobre ou Mamadou ou Ljubomir: Portugal é um país onde não basta ter razão. Para ter razão há que estar do lado político-midiaticamente certo. Mamadou está. Ljubomir agora não está, o que leva a que os seus atos tenham passado a ser vistos por outra lupa. Por exemplo, o país que agora descobre horrorizado que Ljubomir está acusado de corrupção por ter pedido a um agente da PSP que o ajudasse a chegar a Grândola em dia de confinamento, é o mesmo país que há alguns meses riu com ar galhofeiro quando o mesmíssimo Ljubomir contou o que fizera à refeição que servira a “um dos grandes senhores da Banca portuguesa – que está em liberdade e roubou-nos a todos. Não consegui vingar os portugueses pelo dinheiro que lhes foi roubado, mas consegui, no mínimo, fazê-lo cagar uns três ou quatro dias.” 

No momento em que Ljubomir, mesmo que de forma involuntária, confrontou o Governo PS deve ter começado a perceber que já ninguém lhe achava graça. A fase seguinte é a clássica constatação de que quem se mete com o PS leva. 

Desconheço o futuro do movimento ‘A Pão e Água’. Mas receio que um dia os Ljubomir deste país deitem contas à vida e concluam que devem investir no ativismo do ressentimento, sector à prova de epidemias, com receitas garantidas e em que os empresários do sector, vulgo ativistas, estão blindados contra críticas. 

Quem duvida que os mesmos que dizem agora ser um espetáculo de mau gosto Ljubomir aos gritos ou em greve de fome porque quer manter a funcionar os seus restaurantes ficariam calados diante de Ljubomir a denunciar os crimes acontecidos algures no século XIV? Desde que acusasse os suspeitos do costume estava Ljubomir com subvenção garantida, inquestionável e vitalícia. 

PS. O plano de vacinação contra a Covid-19 que parece o power point de um trabalho de grupo do 10º ano estabelece que a vacina será administrada nos centros de saúde após indicação do médico de família. Portanto os mesmos centros de saúde que não conseguiram este ano administrar a vacina da gripe comum vão ter a responsabilidade pela administração da vacina contra a Covid 19. E garantem-nos que vai correr tudo bem! A segunda parte desta previsão astrológica determina que aqueles que não têm médico de família “terão de contactar o Serviço Nacional de Saúde” para serem vacinados. Há páginas dedicadas aos signos do Zodíaco mais fiáveis que estas previsões. 

Título e Texto: Helena Matos, Observador, 6-12-2020

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