Valdemar Habitzreuter
Nada mais equivocado querermos
desafiar a racionalidade da Natureza, ou melhor, querer, a todo custo, subjugar
a nosso favor suas leis necessárias e determinísticas que têm seus fins
próprios.
Nem sempre temos plena
consciência de que fazemos parte dessa Natureza e do destino que nos impõe, do
qual não podemos escapar. Isso acontece a todas as coisas existentes, aos seres
animados e inanimados.
Mas nós humanos, de certa
forma, somos arrogantes e julgamo-nos acima e à parte da Natureza e potentes de
auto proclamar-nos independentes de suas determinações. E isto nos leva, sem
dúvida, a infortúnios, principalmente à falta de paz e tranquilidade, pois não
nos conformamos com as contrariedades que, eventualmente, ela nos inflige na
vida - queremos sempre que o vento sopre a nosso favor. Assim, ficamos
desolados quando achamos que somos prejudicados, e nos armamos e lutamos para
subjuga-la, e mesmo esfoliando-a para nossos propósitos egocêntricos. Nada mais
errôneo, pois ela insiste e prossegue em seu ritmo sábio preestabelecido.
No entanto, há uma proposta
filosófica que nos indica um caminho sábio de como lidar ou deixar-nos envolver
harmonicamente nos desígnios da Natureza que, muitas vezes, nos são
incompreensíveis. É a proposta estoica.
O estoicismo tem a Natureza
como Razão universal, razão sábia que dirige o Universo em perfeita harmonia,
da qual todas as coisas participam, e os seres humanos tendo o privilégio de
serem contemplados com uma centelha dessa Razão universal (a Natureza como
princípio passivo e a Razão, ou Deus, como princípio ativo, num todo imanente).
Significa isso que a razão humana tem o dever de harmonizar-se com a Natureza e
não colocar-se fora dela e forjar caminhos outros daqueles determinados pela
Razão universal. Seria estar em desequilíbrio com o cosmos que é um todo
harmônico.
Assim, o estoicismo prega a
filosofia da harmonia, e tudo o que nos acontece na vida deve concorrer para
isso. Nem sempre achamos que os propósitos da Natureza nos são favoráveis e
benéficos, e, com isso, deixamo-nos levar pela inquietude e desgosto. Mas, há
uma maneira de encarar, favoravelmente, as vicissitudes da vida: ter a atitude
da indiferença.
Esta indiferença nada mais é
do que adquirir a virtude de aceitar o que a natureza nos reserva de
irrevogável em sua marcha de criação e transformação. Como sabemos, tudo na
Natureza se degrada e caminha para a falência para tudo se recriar novamente,
num eterno retorno.
Neste sentido, o estoico,
tendo ciência disso, toma uma atitude indiferente perante o que lhe acontece na
vida. Assim, por exemplo, a saúde e a doença têm o mesmo peso para se ter uma
vida de tranquilidade e paz. Se o corpo é afetado pela doença persistente, sem
possibilidade de recuperação da saúde, o estoico não se desespera e fica
indiferente ao que lhe é imposto pela Natureza. Desse modo, preserva a
tranquilidade e a paz, é feliz. E isso é ser livre para um estoico,
colocando-se acima do bem e do mal, pela atitude da indiferença.
Esta virtude da indiferença o
estoico adquire pela observância da lei moral do dever. Isto é, obedecer aos
ditames da Natureza, sem querer alterar seus desígnios necessários e, sim,
reverenciar seus propósitos próprios, muitas vezes, enigmáticos e contrários ao
desejo do ser humano. Praticar esta indiferença significa integrar-se livre e
moralmente às ações da Natureza. É viver racionalmente uma vida em concordância
com a natureza.
E mesmo a morte voluntária é
moralmente correta para o sábio quando perceber que a vida se torna um
impedimento de viver racionalmente, sendo-lhe, pois, indiferente viver ou
morrer; não contradiz, pois, as leis da Natureza como que configurando uma fuga
das agruras da vida; é antes uma integração na Razão (Logos) universal.
Assim, podemos resumir a
virtude da indiferença estoica nesta máxima: “Não deseja que o que acontece
aconteça como queres, mas queiras que o que acontece aconteça como acontece, e
serás feliz”, (Epiteto). O estoico é um otimista.
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 7-7-2015
Eis me aqui...
ResponderExcluirAdotas tb o estoicismo como filosofia de vida, Rochinha, além do epicurismo? Estoicismo, epicurismo e cinismo têm muito em comum como atitudes éticas e morais perante a vida...
ExcluirValdemar
Eu detesto tudo que termina por "ISMO", exceto turismo.
ExcluirUma das coisas que não sou é CÍNICO, por isso não consigo encher uma mão de cinco dedos de amigos.
Não me encolho perante as verdades.
Quando não gosto de uma pessoa, eu não gosto e pronto, e demonstro.
Eu não gosto de uma pessoa porque outros não gostam, eu tomo a liberdade de efetuar meus próprios caminhos.
Não bajulo ninguém, não puxo-saco, e ninguém tem uma radiografia de suas bolas com meus cinco dedos.
E também pouco me importa o que pensam ou deixam de pensar sobre minha pessoa.
Eu não falo mal de ninguém pelas costas, digo o que penso doa a quem doer, mesmo que seja eu a sentir a dor.
Fui covardemente boicotado em alguns xeques, iniciais por causa de meu pai, o velho era um CDF.
Tive grandes amigos na VARIG e nunca fiquei cantando marra por causa disso.
Por exemplo o Comandante Araujo.
Bebi muitas doses de uísque com o Schitini e o Araujo nas noites gaúchas.
Aprendi a respeitar pessoas que todos falavam mal com o Rene Hanquet e o Maraschin.
Fui ofendido por um comandante chamado Tibério, e ainda fui à junta disciplinar cujo voto de minerva à meu favor foi do comandante Jean.
Nunca me vendi por causa de passe, em para ganhar base em Porto Alegre, anos a fio paguei passagem do meu próprio bolso.
Troquei um voo com um chefe do equipamento, eu fiz o dele ele não fez o meu, 5 dias de gancho e um ano sem passe.
Sai da AMVVAR porque a assembleia se negou a fazer uma investigação das contas de alguns ex-presidentes.
O fato de praticar as idéias estoicas e epicuristas não em tornam cínico.
Os cínicos e seus seguidores se consideravam virtuosos, praticavam a virtude, e não tenho pretensão nenhuma de ter uma vida de cão.
E por tocar no assunto, nós do AERUS que estamos nessa vida de "Cinosargo" vivemos no mundo dos cães.
Fui...
P.S. as amizades virtuais são as melhores, porque posso tratar a todos igualmente, pelo nome não dá para se olhar nos olhos e nem sentir a firmeza do aperto de mão, onde é muito fácil julgar os verdadeiros cínicos.
Só para completar um raciocínio.
ResponderExcluirMuito bom falar de filosofia.
A filosofia de VIDA, tem variantes que não podemos controlar, tais como:
- Os fatores sociais, econômicos e políticos ou ainda o sistema de valores em que somos criados.