quarta-feira, 15 de agosto de 2018

O que acontece com o #MeToo quando a acusada de assédio é uma feminista?

Rodrigo Constantino

Segundo a narrativa das feministas do #MeToo, todo homem é um potencial predador sexual que abusa das mulheres, e toda mulher é vítima do sistema patriarcal. É uma narrativa marxista de luta de classes, que segrega a população em bons e maus, sendo que o sexo é o critério de definição, ao contrário da classe para os marxistas clássicos. Mas o rancor, o ressentimento e o coletivismo são os mesmos.

Qualquer cantada masculina já virou sinônimo de assédio por conta dessa mentalidade do ódio. Mas cabe a pergunta: o que acontece quando quem assedia é a própria mulher? A questão surgiu até no esquerdista NYT, após uma professora feminista ter sido acusada de assediar um aluno. Avital Ronell [foto], uma professora de renome mundial de Alemão e Literatura Comparada na New York University, foi considerada responsável por assédio sexual a Nimrod Reitman, um aluno universitário.

Uma investigação que durou onze meses considerou a professora culpada, tanto por assédio físico como verbal, a ponto de seu comportamento ser suficientemente invasivo para alterar os termos e condições do ambiente de ensino do aluno. A universidade suspendeu a professora pelo próximo ano acadêmico.

O rapaz denunciou ter sido assediado durante três anos, e divulgou emails em que a professora o tratava com termos inadequados e se insinuando sexualmente. Não obstante todas as provas, assim que a professora sofreu as consequências de seus atos várias feministas saíram em seu apoio. A primeira da lista foi Judith Butler, autora de Gender Trouble, e uma das mais influentes feministas da terceira geração, a mais radical de todas.

“Apesar de não ter tido acesso ao dossiê confidencial, todas trabalhamos por muitos anos perto da professora Ronell”, dizia um esboço da carta publicada num blog. “Todas vimos a relação dela com seus alunos, e algumas de nós conhecemos o indivíduo que lançou essa campanha maliciosa contra ela”, continua. Ou seja: todo benefício da dúvida para a professora, enquanto o aluno que a denunciou é queimado na fogueira feminista: só pode ser um mentiroso safado!

Imaginem se toda acusação de assédio contra mulheres fosse recebida da mesma forma? O que fica claro é como o movimento feminista abandonou qualquer apreço pelo devido processo legal, pela busca da verdade, pela necessidade de provas, para ter seu julgamento pronto sempre a priori: o homem é eternamente culpado, e nenhuma mulher jamais pode ser culpada. É nisso que se transformou o feminismo de hoje. A palavra da mulher vale mais do que evidências, e nenhuma prova é suficiente quando a mulher é a acusada.

Reitman, que é gay, apresentou as provas: mensagens constrangedoras em que a professora, que é lésbica, diz que quer seu beijo no meio do dia, ou que se imagina deitada na cama com ele. Reitman hoje é casado com um homem, membro, portanto, da minoria dos homossexuais. Não importa: por ser do sexo masculino, só pode ser o culpado na história, segundo as feministas. Julgar os atos individuais é algo que a esquerda coletivista, com sua política de identidades, não consegue mais fazer.

Por fim, creio que ninguém ficará surpreso ao saber que a professora Ronell odeia publicamente o presidente Trump, visto como um típico predador sexual. Ah, se a esquerda tivesse espelho em casa…
Título, Imagem e Texto: Rodrigo Constantino, Gazeta do Povo, 14-8-2018

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