Olavo de Carvalho
Não creio que a atração
erótica entre pessoas do mesmo sexo seja antinatural e não vejo mesmo nenhum
motivo, em princípio, para classificá-la como doença. Também é fato que o termo
“homossexualismo” não corresponde a um fenômeno homogêneo e sim a uma variedade
de impulsos, desejos e comportamentos, numa gama que vai desde a repulsa ao
outro sexo até a completa identificação com ele.
Se na linguagem da propaganda condutas tão díspares são reduzidas artificialmente à unidade de símbolos ideológicos, com valores opostos conforme as preferências de quem os use, isso não é motivo para que os profissionais da saúde mental se deixem levar por idêntica histeria semântica e, violando a regra mais básica da técnica lógica, tirem conclusões unívocas de termos equívocos.
Clodovil Hernandes, Estilista e Deputado Federal, 2007 |
Resta, ademais, um fato
incontornável: como toda e qualquer outra conduta sexual humana, o
homossexualismo em toda a diversidade das condutas que o termo encobre, nem
sempre emana de um desejo sexual genuíno.
Pode, em muitos casos, ser uma
camuflagem, uma válvula de escape para conflitos emocionais de outra ordem, até
mesmo alheios à vida sexual.
É possível e obrigatório,
nesse caso, falar de falso homossexualismo, de homossexualismo neurótico ou
mesmo psicótico, para distingui-lo do homossexualismo normal, nascido de um
autêntico e direto impulso erótico.
A proibição de dar tratamento psicológico a pacientes que sintam desconforto com a sua vida homossexual resulta num impedimento legal de distinguir entre esses dois tipos de conduta especificamente diferentes, entre o mero impulso sexual e a sintomatologia neurótica, equalizando, portanto, homossexualismo e doença.
Por outro lado, essa
diferença, em cada caso concreto, não pode ser estabelecida a priori,
mas só se revela no curso da psicoterapia mesma.
É previsível que, uma vez
removido o conflito profundo, o interesse pela prática homossexual diminuirá ou
desaparecerá nos portadores de homossexualismo neurótico, ao passo que os
homossexuais normais continuarão a sê-lo como antes.
A proibição de distingui-los
resulta, portanto, em encobrir a neurose sob uma carapaça de proteção legal,
fazendo do Estado o guardião da doença em vez de guardião da saúde.
A proposta de consagrar aquela
proibição em lei, revela, nos seus autores, a incapacidade de fazer distinções
clínicas elementares, e essa incapacidade, por sua vez, nos dá a prova
incontestável de uma incultura científica e de uma inépcia profissional
suficientes para justificar que essas pessoas sejam excluídas da corporação dos
psicólogos. A autoridade desses indivíduos para opinar em questões de
psicologia é, rigorosamente, nenhuma.
Porém, há ainda algo de mais
grave. A proposta da proibição acima mencionada vem no contexto de um movimento
criado para proibir e punir como “crime de homofobia” toda opinião adversa à
conduta homossexual, independentemente da linguagem serena ou inflamada, polida
ou impolida, racional ou irracional com que essa opinião se expresse.
Pareceres científicos, juízos
filosóficos e ensinamentos doutrinais das religiões são assim nivelados, como
delitos, aos insultos mais grosseiros e às manifestações mais ostensivas de
preconceito e discriminação.
Com toda a evidência, nenhuma
palavra contra a conduta homossexual neurótica ou sã será permitida.
Ao longo de toda a história,
nenhuma outra conduta humana gozou jamais de tão vasto privilégio, de tão
abrangente proteção. Nenhuma esteve jamais imunizada por lei contra a
possibilidade de críticas. Não o é, por exemplo, nenhuma conduta política. Não
o é nenhuma qualidade humana, por mais excelsa e respeitável.
Não o é a genialidade
artística ou científica, a honestidade impoluta ou mesmo a santidade. Não o é a
vida pública e privada de quem quer que seja. Não o é nem mesmo a conduta usual
de um casal heterossexual, frequentemente criticada como sintoma de
trivialidade e falta de imaginação.
Não o é, por fim, o próprio
Deus, contra o qual se dizem e se escrevem, livremente e sem medo de punição,
toda a sorte de barbaridades.
A proteção legal que se
reivindica para o homossexualismo é tão claramente megalômana, tão
desproporcional com os direitos de todas as demais pessoas e grupos, que
resultará em fazer dessa conduta um domínio – o único domínio – separado da
vida e superior a ela, intocável, inacessível às opiniões humanas.
A proposta é tão
inequivocamente demencial que o simples fato de que a mídia e o Parlamento
cheguem a discuti-la a sério já é prova de que boa parte da sociedade –
justamente a parte mais falante e ativa – perdeu o sendo inato da distinção não
só entre o normal e o patológico, mas entre realidade e fantasia.
Segundo o grande psiquiatra
polonês, Andrew Lobaczewski*, isso acontece justamente quando os postos de
liderança estão repletos de personalidades psicopáticas, as quais, com suas
ações temerárias e sua fria insensibilidade às emoções normais humanas, acabam,
quando triunfantes, por espalhar na população em geral um estado de confusão
atônita, de falta de discernimento e, no fim das contas, de estupidez moral.
Homossexuais podem ser pessoas
normais e saudáveis? É claro que podem. Mas o que leva alguém a defender
mutações jurídico-políticas tão monstruosas quanto aquelas aqui mencionadas não
é nenhum impulso sexual, seja homo, seja hetero. É a psicopatia pura e simples.
Mais que incompetentes e
indignos de exercer a profissão de psicólogos, os apóstolos de tais medidas são
mentes deformadas, perigosas, destrutivas, cuja presença nos altos postos é
promessa segura de danos e sofrimentos para toda a população.
* Ver Ponerologia: Psicopatas no Poder (leitura iniciada)
Título e Texto: Olavo de Carvalho, Diário do Comércio, 2-7-2012, in “o mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”, páginas 516/518
Digitação: JP, 17-5-2021
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