A sociedade capitalista e
consumista em que vivemos é dividida em três grupos: uma minoria que possui
muito e corre para administrar seu enorme patrimônio, a grande maioria que
busca adquirir mais do que possui, e os muito poucos que, sem pressa, apreciam
cada detalhe da vida.
Pessoas acostumadas com dias
muito agitados, repletos de compromissos, reuniões, debates, cursos e palestras
podem ser imediatamente, ou quando menos esperarem, obrigadas a mudar
radicalmente seus costumes e o ritmo de suas atividades.
Diversos motivos, doenças ou
acidentes, podem levar a impedimentos, imobilidades e isolamentos que
possibilitarão uma autoanálise e a revisão de quais os valores realmente devem
ser observados.
Os que passam por isso
normalmente mudam o foco sobre diversos pontos da vida antes imaginados
importantes, agora tidos como insignificantes, e passam a valorizar coisas que
antes não conseguiam enxergar.
A beleza de um ipê totalmente
desfolhado, antes do início de sua floração, com um pássaro colorido em um de
seus galhos é algo jamais visto e admirado, por quem está correndo para não
chegar atrasado a uma reunião de negócios.
O registro fotográfico de um
por do sol, de um local bonito por onde passou, ou do pássaro no ipê, para
posteriormente ser compartilhado com quem não estava presente naquele momento,
passa a ser extremamente gratificante por quem o realiza.
As cenas espetaculares e
inesquecíveis de um acasalamento equino, o nascimento de um de um animal no
campo, o canto de um pássaro livre e o som isolado do vento nas folhas, só
podem ser vistas e ouvidas por quem possui tempo e se dispõe a uma vida
diferente da levada nos grandes centros urbanos.
As sementes das maiores
árvores, que não conseguem crescer à sua volta por causa da falta de raios
solares provocado por sua sombra, precisam ser consumidas pelos pássaros que
depois as transportam em seus intestinos até outros locais, onde brotarão e
crescerão longe da sombra da árvore mãe, assim como os humanos, entre os quais
podemos notar o maior amadurecimento daqueles que já se afastaram dos pais, e a
maior imaturidade – e muitas vezes irresponsabilidade -, dos que, por qualquer
motivo, continuam dependentes deles.
Os pássaros também são
responsáveis pelo transporte das ovas de peixes entre lagos, represas e rios,
pois ao pisarem na água para saciar sua sede, estas aderem às suas pernas e só
se soltarão quando em novo contato com a água, geralmente em outro local.
Como é do conhecimento de
todos, abelhas, beija-flores e outros insetos e aves são os responsáveis pela
polinização das plantas, mas pouquíssimos são os que já observaram esse
trabalho ou a estrutura organizacional de uma colmeia, formigueiro, cupinzeiro
ou de uma família de macacos.
Os donos de muitos negócios,
preocupados, mesmo quando em qualquer local distante das cidades, não conseguem
enxergar nenhuma dessas belezas, pois continuam com pressa e olham tudo muito
rapidamente, por não possuírem tempo para essas “bobagens”.
A grande maioria, por sua
ansiedade em busca de bens materiais, jamais passará por experiências assim sem
uma freada brusca e radical em suas atividades diárias.
A pressa nos impede de observar a beleza dos detalhes, sem os quais
nada existiria.
Título, Imagem e Texto: João
Bosco Leal
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