O povo percebe o jogo sujo, sente que sua
liberdade está ameaçada, e não aceitará passivamente ver o Brasil virar uma
nova Venezuela
Rodrigo Constantino
Minha colega de revista Ana
Paula Henkel comentou comigo após o 7 de setembro, quando milhões foram às ruas
numa manifestação patriótica, que mal conseguia andar pela Avenida Paulista e
que nunca vira nada igual, nem em seus tempos de atleta olímpica. A multidão a
parava pedindo fotos, agradecendo por seu trabalho, por dizer a verdade. Em
nossa conversa sobre o episódio, ficamos refletindo sobre a demanda reprimida
por posicionamentos mais conservadores na mídia nacional, e como a simples
coragem de dizer o óbvio se transformou em heroísmo em nosso país.
Estava havia um ano sem vir ao
Brasil. Pode-se alegar que no dia 7 de Setembro a multidão nas ruas era
alinhada, ou seja, há um viés de amostra aqui. Mas fiquei espantado com a
mudança em um ano. Os taxistas e motoristas de Uber me reconheceram, o garçom
do restaurante se disse meu fã e o chef quis tirar uma foto comigo. O cortador
de grama do condomínio dos meus pais no Rio disse que me acompanha, e circular
nas ruas ou no shopping hoje é impossível no anonimato. Em suma, um
comentarista de política virou uma espécie de celebridade, tratamento reservado
antes aos atores globais. Como foi que isso aconteceu?
É preciso compreender o
fenômeno, pois ele não é natural. Jornalistas são reconhecidos, claro, e
recebem elogios ou críticas. Faz parte. Mas o que está se passando é algo bem
diferente. A própria Ana Paula escreveu uma coluna após o 7 de Setembro usando
a alegoria platônica da caverna para mostrar o despertar do povo, que resolveu
deixar a ignorância política de lado. O feedback mais comum
que recebemos é justamente o de que damos voz a essa gente toda, conseguimos
concatenar seus pensamentos de forma concisa, ajudar nas reflexões.
Os 14 anos de petismo foram cruciais para esse despertar. A democracia quase foi destruída, e a economia mergulhou numa crise sem precedentes. O povo buscou mais informações, confiou em quem havia alertado para esse risco desde o começo. As redes sociais furaram a bolha da hegemonia esquerdista na imprensa, e uma maioria até então silenciosa se descobriu maioria, e com voz. A defesa de valores morais, a luta pela liberdade, a verdadeira resistência democrática, tudo isso uniu uma multidão até então dispersa, que se sentia órfã não só na política, como também nos debates públicos.
A direita liberal e conservadora busca seu espaço legítimo no debate
Hoje está claro que os velhos
monstros do pântano não vão largar o osso docilmente. Lula está solto e
elegível, colocado como favorito por pesquisas suspeitas, enquanto o primeiro
presidente que se assume de direita é perseguido de forma implacável. Bolsonaro
não é perfeito, e os jornalistas independentes não são bolsonaristas, em que
pese o rótulo colocado pelos militantes esquerdistas. O povo percebe o jogo
sujo, sente que sua liberdade está ameaçada, que a própria democracia está em
perigo, e não aceitará passivamente ver o Brasil virar uma nova Venezuela.
Ou seja, as circunstâncias nos
levaram a essa situação inusitada, em que mais brasileiros sabem a escalação
dos ministros do STF do que da seleção de futebol. Há uma maior politização,
alguns até diriam excessiva. A mídia fala em polarização, mas na prática isso
quer dizer que a velha estratégia das tesouras entre PT e PSDB chegou ao fim, e
a direita liberal e conservadora busca seu espaço legítimo no debate. A reação
da esquerda, na política e na imprensa, tentando desqualificar e demonizar
todos os conservadores, acaba jogando mais lenha na fogueira.
Essa parcela significativa do
povo brasileiro está determinada a fazer valer seus princípios, e não mais
ficará calada diante das narrativas oficiais impostas por uma imprensa vendida.
Há um grande senso de propósito no ar, uma missão mesmo de luta por liberdade,
uma cruzada da qual pessoas de diversos perfis fazem parte. E não uso cruzada
por acaso: estamos numa guerra política, cultural e, acima de tudo, espiritual.
O recado chegou a todas as classes, e é uma mão de via dupla. No fundo,
comentaristas como eu e a Ana, entre outros, estamos simplesmente dando cara e
voz a esse sentimento difuso, que vem do povo.
Em nossas conversas
particulares, já questionei como era essa sensação de carregar o peso da
bandeira nacional representando toda a nossa nação nos Jogos Olímpicos. Não é
algo fácil de descrever, disse-me a Ana. Hoje quero crer que entendo um pouco
melhor isso. Ao andar pelas ruas e ser abordado por gente de todo tipo,
elogiando e agradecendo, pedindo para nunca os abandonar nem trair, desejando
força e orando por nosso trabalho, percebo o peso dessa responsabilidade.
É um reconhecimento que muito
me honra, sem dúvida. Uma honra que vem carregada desse senso humilde de servir
a uma causa muito maior do que eu. Não sou apenas mais um comentarista
político; estou ali, nos vários veículos de comunicação, representando uma
multidão cansada da velha imprensa e da velha política, angustiada com a possibilidade
de perdermos essa guerra e a esquerda voltar ao poder, escravizando todos,
destruindo suas esperanças, seu futuro.
Noto um receio em muitos de
que eu poderia traí-los, virar a casaca, abandonar o barco, desistir do país. É
compreensível, quando vemos quantos jornalistas agiram assim, mudaram de forma
abrupta e incompreensível, tornaram-se militantes sem nenhum compromisso com a
pátria. Descobri também que nessa minha área a quantidade de pavões é incrível,
e o ego se deixa seduzir pelo poder com frequência. Mas fiquem tranquilos.
Tenho os pés no chão para saber que só estou onde estou por conta de vocês, e
meu compromisso é com meu país e com a liberdade, uma paixão antiga que jamais
sacrificaria em prol de qualquer coisa. Nosso Brasil merece muito mais, e
contem comigo nessa batalha!
Título e Texto: Rodrigo
Constantino, revista OESTE,
nº 84, 29-10-2021
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