Crónica de África é
uma viagem encantada por Luanda e por Angola, de 1959 a 1976. Como era a
infância, como foi a adolescência nos trópicos? Livro pessoalíssimo, Crónica
de África leva-nos dos bancos da Missão de São Paulo às salas do Liceu
Salvador Correia, guia-nos pelo musseque Sambizanga e pelas ruas da Vila Alice,
mergulha na Ilha de Luanda e no Mussulo.
São aventuras carregadas de
ternura, histórias de magia, sonho e um pingo de nostalgia, histórias de quase
delinquência, com um chimpanzé que bebe Coca-Cola e caranguejos em fuga à
mistura.
Um livro para quem nunca foi a
África – um livro para quem nunca esquecerá África.
Livro inspirado pela vida,
entre uma lágrima e muito riso, com um capítulo final sobre a independência,
que conta o primeiro réveillon revolucionário: «A carne talvez
fosse fraca, o sal seria um veneno, mas nunca o molho pareceu tão bom.»
Um suave derrame sentimental
Manuel S. Fonseca
Acabara de me apaixonar por Natalie Wood. Vira-a, acolhedora, a deixar James Dean deitar-lhe a cabeça no colo, em Rebel Without a Cause. O que ela, adolescente, fazia no filme, um sorriso triste, beijos só de lábios a roçarem lábios, sonhava eu que era comigo. E o que Natalie oferecia era um suave derrame sentimental, doce enjoo intransmissível a terceiros.
Nessas férias de 68, nas noites
cacimbadas de Luanda, o cinema
Império
passava um festival de reposições. Jurara promessas á ternura de Natalie Wood,
mas noite é noite, a natureza masculina, mesmo a adolescente, é instável, e fui
à descoberta.
Exibia-se The Sandpiper. O filme, embora assinado por Vincente Minnelli, não é extraordinário. Apenas veículo para a arrasadora paixão que Elizabeth Taylor e Richard Burton viviam na vida real. Já a vira, à menina Taylor, Cleópatra, mas não consegui ser romano suficiente para que me aquecesse mais do que arrefecesse. Agora, em The Sandpipper, numa praia californiana, Elizabeth era bastante menos do que a atriz de Cleópatra, era uma mulher.
Com a Natalie Wood de Rebel, que
em Portugal se chamou Fúria de Viver, tive a ilusão de que uma namorada
não poderia ter mais de 20 anos e era uma coisa de olhar nublado e sorriso
melancólico que se instalava na nossa cabeça, mais precisamente no coração que
temos na cabeça.
Ao ver a Taylor de The Sandpipper,
em português chamado Adeus Ilusões, vi a avidez de viver do corpo
sexuado de Taylor e senti esse “ser mulher” a injetar-se-me nas veias e
nesse vagabundo coração que não direi onde é que, no corpo de um homem, se pode
encontrar.
Elizabeth já tinha 33 anos, o que em
meados dos anos 60, a fazia balzaquiana. A personagem dela era como ela, como o
corpo dela, com redondas doçuras a testemunhar que aquela boca não se proibia
nenhum prazer.
Era, no filme, uma artista livre, a viver isolada na praia (uma casa assombrosa e nada assombrada) e mãe solteira porque, como explicava: “Não fui abandonada pelo pai, foi o pai que foi abandonado por mim.”
Não apreciei o estilo liquidificador de lembranças cinematográficas com a narrativa. 😒
Relacionados:
“Não será por falta de dinheiro que nos renderemos”
Independência das colónias: que opções, no Estado Novo?
Anteriores:
Descobrimentos e outras ideias politicamente incorretas
Feminismo: perversão e subversão
As Blasfémias de Cristina
A Nova Síndrome de Vichy
O crescimento do cristianismo – Um sociólogo reconsidera a história
Les interdictions de livres, poison de la démocratie américaine
Le temps des loups
Sobre a Liberdade
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não aceitamos/não publicamos comentários anônimos.
Se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-