O prefácio cita "O Processo" de Franz Kafka, "J'Accuse" de Émile Zola e compara Operação Marquês à Lava Jato. Dilma Rousseff diz que caso de Sócrates é escandaloso por ocorrer na Europa
Marta Leite Ferreira
Dilma Rousseff, antiga presidente do Brasil, escreveu o prefácio do livro que José Sócrates [foto] vai lançar nos próximos dias sobre a Operação Marquês, “Só Começou Agora”. O texto cita “O Processo”, obra de Franz Kafka, e “J’Accuse”, de Émile Zola; e compara a investigação ao antigo primeiro-ministro português à Operação Lava Jato, que recaiu sobre Lula da Silva.
Foto: AFP/Getty Images |
Um excerto desse prefácio,
citado pelo Diário de Notícias, afirma que a narrativa de José Sócrates
traduz-se numa “trama digna de um thriller político” — e que, embora seja
“inacreditável”, não é “inédita”: “Está no manual do lawfare usado
rotineiramente contra líderes políticos. O uso da lei como arma de destruição
civil e criminal de líderes políticos, caracterizando o que ficou conhecido
como justiça do inimigo”.
Mais à frente no texto, Dilma
Rousseff argumenta que “os paralelos entre a situação vivida pelo veterano
líder do Partido Socialista (…) e a do ex-presidente brasileiro Luiz
Inácio Lula da Silva salta aos olhos“. Mas que a justiça acabará por se
concretizar, tal como considera que ocorreu quando o Supremo “reconheceu a 24
de março que o ex-juiz Sérgio Moro foi parcial e submeteu o ex-presidente do
Brasil a uma perseguição implacável”.
Dilma Rousseff foi presidente do Brasil entre 2011 e 2016, mas foi afastada do cargo através de um processo de impeachment, acusada de ter violado a lei orçamentária e de ter estado envolvida em crimes de corrupção na Petrobras, que também estava a ser investigada na Operação Lava Jato. Foi substituída por Michel Temer, que era o vice-presidente brasileiro e que já tinha atritos com Dilma Rousseff.
O prefácio antecipa
precisamente o exercício que José Sócrates faz em “Só Começou Agora”, comparando
o seu próprio caso aos julgamentos no âmbito da Operação Lava Jato. Mas Dilma
Rousseff vai mais longe e considera a Operação Marquês mais vergonhosa
porque ocorreu “em Portugal, coração da Europa Moderna”, o que
constitui uma “vergonha para todos”.
“A denúncia de seu suposto
envolvimento em corrupção só foi oficializada um ano e meio depois dele ter
sido encarcerado numa prisão preventiva que por si só já escandalizaria
qualquer defensor do Estado Democrático de Direito. E isso aconteceu
debaixo dos olhos da opinião pública de Portugal“, escreve Dilma Rousseff.
Ainda assim, “a verdade prevalecerá”, mas é “preciso perseverar e não
desistir”.
Título e Texto: Marta Leite
Ferreira, Observador,
10-4-2021, 12h27
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