Cabrita, Marta Temido, etc., têm vindo a funcionar para o Governo como abcessos de fixação, impedindo que a infeção atinja o primeiro-ministro
José António Saraiva
Nos últimos meses, através de e-mails ou até de interpelações de desconhecidos feitas em locais públicos, têm-me dito com alguma frequência: «O regime está podre». Não gosto da expressão, pois a palavra ‘podre’ é para mim demasiado forte. E sugere a necessidade de uma intervenção musculada. Prefiro dizer que estamos num pântano.
Julgo que, à direita e à
esquerda – embora de maneiras diferentes –, cresce essa sensação. É claro que
isto tem que ver também com a pandemia. Até porque entrámos num período em que
o Governo parece já não saber como lidar com o vírus.
Estamos num para-arranca,
confina-desconfina, que só terá como consequência eternizar a doença. Que não
matará a pandemia, mas matará a economia.
De dia para dia veem-se mais
empresas a fechar, mais gente a necessitar de apoio, mais desemprego (algum
encapotado). E quando as moratórias acabarem, quando os apoios do Estado se
esgotarem, nem imagino o que será.
E, entretanto, os bancos, com
os calotes que vão sofrer, muito dificilmente aguentarão. A dívida pública vai
continuar a subir e o défice público idem.
Dir-se-á que a bazuca vai resolver muitos problemas. Resolverá alguns.
Só que, em vez de contribuir
para reforçar a nossa estrutura produtiva, como seria necessário, vai servir
para tapar buracos. Mais uma vez não sairemos da cepa torta.
E depois há o desgaste do
Governo. António Costa tem usado alguns ministros como ‘escudo’ – como escrevi
há semanas – ou como ‘abcessos de fixação’.
Antigamente, quando um doente
tinha uma infeção grave, os médicos criavam artificialmente um abcesso
destinado a absorver e concentrar os elementos infetados; depois removiam o
abcesso e acabavam com a infeção.
Cabrita, Marta Temido, etc.,
têm vindo a funcionar para o Governo como abcessos de fixação, impedindo que a
infeção atinja o primeiro-ministro.
E assim, desde o início, Costa
tem sempre escapado ao que corre mal. Safou-se de culpas nos incêndios, que
chamuscaram Constança Urbano de Sousa; safou-se de responsabilidades em Tancos,
que tramaram Azeredo Lopes; safou-se de críticas na pandemia, que desabaram
sobre Graça Freitas e Marta Temido; safou-se de acusações na morte do
ucraniano, que foram atribuídas ao SEF e a Eduardo Cabrita; safou-se das
consequências do atropelamento na A6, que recaíram sobre o mesmo Cabrita;
tem-se safo de problemas na TAP, que têm exposto Pedro Nuno Santos.
Tenho a certeza de que alguns
ministros já pediram a demissão, mas o primeiro-ministro disse-lhes: «Não é
isso o que a oposição quer? E nós vamos fazer o jogo da oposição?». E perante
isto os ministros curvam-se e aceitam ficar. E, no fundo, até gostam de ficar…
Há ainda os escândalos. Que
têm vindo à tona a um ritmo vertiginoso.
Quando os ecos de indignação
sobre o acórdão de Ivo Rosa relativamente ao processo Marquês ainda se faziam ouvir,
veio a prisão de Joe Berardo; e quase em simultâneo começou o julgamento de
Ricardo Salgado; e logo a seguir foi a detenção de Luís Filipe Vieira; e uns
dias depois uma nova condenação de Armando Vara.
Tudo gente ligada ao poder
numa mesma época, em que se derreteu dinheiro como nunca se vira em Portugal.
E atenção: o Governo que temos
é do PS, ou seja, do mesmo partido a que pertencia José Sócrates, o ‘sacerdote’
que pontificava nesse tempo. Ora, muita gente que então estava no poder para lá
voltou com António Costa.
Tudo isto junto – as chagas da
pandemia, a crise económica, o desgaste notório de alguns ministros, os casos
de corrupção, a presença no poder de gente do tempo de Sócrates – transmite uma
ideia de águas paradas, de pântano, que levará alguns a dizer que o regime está
podre.
Até porque, para agravar as
coisas, a oposição não mostra capacidade para ser alternativa. Pior: mostra uma
total incapacidade para apontar um rumo.
E assim não se vê maneira de
sair deste charco.
Há uns 50 anos estaríamos à
beira de um golpe militar. Mas com Portugal na União Europeia até essa
‘solução’ deixou de existir. O quisto acabará, porém, por rebentar.
E nessa altura, como sempre
aconteceu até aqui, António Costa safar-se-á de qualquer modo – e outro que
venha resolver a crise.
Teremos provavelmente um novo
resgate. E um novo Passos Coelho para servir de mártir.
Título e Texto: José
António Saraiva, Nascer do SOL,
17-7-2021
Acho que "podre ou putrefato"são as palavras corretas para os sistemas socialistas. O PÂNTANO é uma benesse natural para as matérias fétidas. É nos pântanos que se praticam a limpeza do ecossistema. Onde se retiram as impurezas das águas poluídas pelos homens. A biodiversidade dos pantanais retiram o nitrogênio e liberam o metano da podridão produzida pelos homens. Comunidades americanas usam pântanos artificiais para despoluirem rios e lagos.
ResponderExcluirElogios à matéria.
Enquanto isso os peixes (povo) morrem nas águas poluídas.
fui...