sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

[Aparecido rasga o verbo] Amores (quase) impossíveis, todavia, verdadeiros

O caso do navio Seu Luiz que beijou a ponte Rio-Niterói

 Aparecido Raimundo de Souza

LEIO, ESTARRECIDO, e o mesmo tempo boquiaberto, ao tomar conhecimento que a Murrinha do Brasil, através de uma nota (certamente a nota RE) junto com a Capitania dos Porcos, abriram inquérito para saber o verdadeiro motivo que levou o graneleiro Seu Luiz (atualmente desempregado e encostado no INSS e, apesar disso, a procura de um serviço) a se beijar e não como foi amplamente trazido à público, “a se chocar” contra a linda e esfuziante Ponte Rio-Niterói. 

Segundo a Murrinha do Brasil, o simpático Seu Luiz se fazia fundeado, triste, chateado, desde fevereiro de 2016, quando levou um fora da Catamarã, uma barca doidinha e tida como avoada que fazia (ou melhor, ainda faz), a travessia da Praça Quinze, para a Ilha de Paquetá. Foi a partir do fim dessa desilusão amorosa que Seu Luiz começou a se engraçar com a gostosa e soberba Ponte Costa e Silva. 

A bela, até onde se sabe, se mantinha casta e intocada. Só se entregaria, confessou a um tio seu, o Rebocador Marino, só se entregaria com tudo, sem medo e sem temores, para aquele que tocasse o mais profundo de seu íntimo. Somado tudo isso ao fato incontestável da jovem ser alta, bem iluminada e cuidada, cheia de charme e amor para dar (principalmente para dar) soube se a posteriori, que a imaculada andava doida de pedra, subindo acima do espetaculoso vão central para rasgar em pedaços o diploma da sua virgindade.  

Pois bem. Assim que a Murrinha do Brasil tomou efetivo conhecimento de um possível “trololó” (1) entre Seu Luiz (e a fogosa Ponte), o jurídico da entidade entrou com um processo para acabar com o romance. Pelo visto a justiça fez água e até o presente momento, com relação a esse problema, nada foi, de fato, evidenciado. Dizem as más línguas, que houve, a “depois”, um segundo processo judicial distribuído à Vara de Família de Niterói, ingressado pelos pais do Seu Luiz, petição encabeçada pelo patriarca da família, o velho senhor Mansur que entre outras coisas não queria aceitar o romance. 

Seu Mansur alegou na peça inaugural (2), que apesar de seu filho, o Seu Luiz não ser mais tão moço e pertencer a uma família conhecida por navegar mares e mundo afora, o rapaz, perdão, o graneleiro, por ser de mais idade que a donzela (caso não desse conta dela na primeira noite, grosso modo, no coro, e falhasse), seu Luiz poderia se sentir frustrado e fugir, de repente, para outro país deixando a pobre e infeliz Pontinha carente a abandonada à sorte. “Mais mal” de tudo, no pior dos mundos, prenha, engravidada, de barriga cheia. 

Outro ponto culminante que chamou a atenção:  o caso de amor dos dois (Ponte-versus-Navio) se fazer aos olhos da sociedade, completamente atípico e o pior, esse particular remar desesperadamente contra os preceitos estabelecidos pela Igreja Católica, notadamente pelos olhos astutos de Nossa Senhora dos Navegantes, madrinha dos que vivem com os pés imersos nas águas. 

Em linha paralela, como é do saber geral, a Ponte Rio Niterói vive o albor mavioso da tenra idade. Goza os primórdios de ser mais nova e desfrutar de boa saúde, apesar de tremer toda em sua base, soltando fogo pelas ventas. Se a união acaso for à frente, a Princesa seria capaz de levar o pobrezinho (na hora do bem bom), a ter um piripaque e soçobrar (3). O Jornal “O Dia” chegou a fazer uma entrevista com o mancebo (4). 

A certa altura da conversa, Seu Luiz se declarou “apaixonadérrimo pela suntuosa moçoila”. Disse ainda que “não desistiria da beldade e estava disposto a causar um acidente inesquecível e de proporções gigantescas”, se não pudesse tê-la nos braços e leva-la para passar com ele um final de semana na paradisíaca Angra dos Reis”. 

Por todo o exposto, apesar do peso de Seu Luiz, quase chegar à casa das 52 toneladas, a Ponte, ao que tudo indica, estava disposta a encará-lo, apesar de todos os contras e as divergências suscitadas.  “Amor impossível?  Onde?  Intrigas da Oposição”. Em declaração ao Jornal “O Globo” a Ponte Rio-Niterói citou vários romances considerados impossíveis, entre eles, o mais inverossímil de todos: 

— O do Airbus A-320 da US Airways que se apaixonou perdidamente pelo Rio Hudson e, tornou público o amor que sentia em seu íntimo, pelo famoso Rio, em 15 de janeiro de 2009. Serviram de testemunhas, na época, as 150 pessoas a bordo (nelas incluindo os pilotos, e três comissários de bordo). Ao sabor de lágrimas e efusões de contentamentos, final das contas, entremeados às mais puras alegrias, todos, sem exceção, bateram palmas e deram graças aos céus. 

Outro caso considerado “milagroso” relatado pela jovem Ponte:
— Em 22 de outubro de 1895, uma locomotiva com três vagões de passageiros, num total de 131 pessoas, foi abandonada dias antes no altar. Por conta, furiosa e muito pê da vida, a danada saiu dos trilhos e partiu para cima de seu apaixonado, o lindo terminal de Montparnasse, em Paris, na França. 

Graças ao Pai Maior, somente uma pessoa morreu. A Locomotiva saiu ilesa, e o Terminal, para não ser julgado como o “causador de tudo”, contraiu núpcias com a estrepitosa Locomotiva. Voltando à Ponte Rio-Niterói, Seu Luiz num gesto incontido e trovejante, tomou uma decisão. Arrancou as amarras e no vapor da mais pura loucura emocional, deu uma mordida na perna da âncora e fazendo valer seu amor puro, terno e incondicional, partiu para o abraço. 

Gritando a plenos pulmões ‘MINHA PONTINHA, EU TE AMO, EU TE AMO”, pulou com tudo no pescoço da deliciosa trazendo em seus cascos todas as lágrimas que brotavam de seu “eu” interior. Pensou com seus botões, depois desse amplexo (5) e das carícias e dos beijos trocados:
— Que vá para os quintos a Capitania dos Porcos e a Murrinha do Brasil. Ambas (são, realmente umas baleias assassinas). Que todos que me separaram (ou tentaram me ver a quilômetros da minha amada Ponte, se explodam e se “espatifem” nos cafundós do tinhoso””.

Três horas depois do ocorrido, a Linda Ponte, agora feita mulher, se viu liberada para o tráfego. Aberta e eufórica. Sobretudo, realizada. Beijou, foi beijada, matou à vontade, tirou uma sem ninguém para lhe perturbar a ansiedade furiosa do seu glamoroso coito tanto tempo esperado. Uau! Quando se deu conta e olhou para o relógio da distante Torre da Central do Brasil, os ponteiros mancavam vinte horas. Esse dia, certamente se fará inesquecível para ela.

Deu até uma declaração de amor publicado na seção de “Cartas” da Revista Veja desta semana:
Vejam que coisa meiga: “Seu Luiz, seu Luiz, meu Luiz, meu amor, meu gato, meu lindo, meu amado, valeu. Ai que dor... você foi fundoooooooo... me acertou a veia...”.
E encerrou assim o seu agradecimento ao apaixonado:
“As dores vão passar... eu te amooooooooooooooooooooo!...”.

A nós, meros mortais, só nos resta esperar. Vamos torcer para que a Ponte, dentro dos próximos nove meses gere uma nova vida. E da barriguinha dela nasça, para a nossa alegria, um lindo e robusto bebê.

Notas de rodapé: 
1) Trololó – Papo furado, conversa para boi dormir. Lero-lero. 
2) Inaugural –Num processo, a peça de ingresso. A petição inicial. 
3) Soçobrar – Submergir, afundar, naufragar. 
4) Mancebo – Rapaz jovem, moço na flor da idade. 
5) Amplexo – A mesma coisa que um abraço afetivo.  

Um comentário:

  1. Se nascesse uma menininha, que nome lhe daria a Ponte?
    E no caso de um guri?
    Carina Bratt
    Ca
    Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de Janeiro.

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