O PCP quanto o BE sabem que esta imputação da responsabilidade da guerra à NATO é uma fantasia descabelada semelhante à de Putin quando chamou nazis e drogados aos ucranianos
João Cerqueira
A principal diferença entre o PCP e o BE é a seguinte: os estalinistas são sinceros enquanto os trotskistas são hipócritas. E para quem tenha dúvidas que ambos defendem os mesmos valores antidemocráticos, recorde-se o voto contrário dos dois partidos quando a União Europeia equiparou o Nazismo ao Comunismo. Da Direita à Esquerda, todos os partidos democráticos europeus votaram a favor; todos os partidos comunistas votaram contra. O resto é espuma para enganar tolos.
Face à invasão russa da
Ucrânia, o PCP foi coerente com o seu apoio ao antigo agente do KGB que
pretende ressuscitar a União Soviética. Como tal, recusa-se a condenar o crime
de Putin e atira a culpa ao imperialismo da NATO. A posição do PCP não mudou um
milímetro desde que foi criado o Pacto de Varsóvia. Estão do lado das ditaduras
e contra o Ocidente democrático.
O BE também foi coerente com o
seu habitual discurso dúbio e hipócrita. Tendo percebido que a opinião pública
condena a invasão russa, o BE também condena, mas… E o problema é esse mas: a
culpa de estarem a morrer homens, mulheres e crianças ucranianas não é só da
Rússia. Não senhor, a culpa é também da NATO, essa organização imperialista que
só deseja a guerra. Não existisse a NATO, e a Rússia, em vez de invadir a
Ucrânia, estaria a prestar-lhe auxílio humanitário.
Ora tanto o PCP quanto o BE sabem que esta imputação da responsabilidade da guerra à NATO é uma fantasia descabelada semelhante à de Putin quando chamou nazis e drogados aos ucranianos. A NATO é uma organização de países democráticos criada justamente para os defender do expansionismo russo. É graças à NATO que a Europa vive em liberdade – democracia burguesa para o PCP e o BE – até hoje. Equiparar a NATO à ditadura de Putin é um ato grotesco de má-fé.
Não admira também que face ao genocídio de Holodomor – quando a União Soviética retirou os cereais à Ucrânia deixando morrer à fome milhões de pessoas – o PCP negue que tal tenha acontecido e Francisco Louçã se permita fazer piadas na SIC-Notícias sobre esse crime contra a humanidade. Sim, é verdade que os comunistas nunca comeram criancinhas, mas forçaram as suas vítimas a fazê-lo – pelo menos na Ucrânia e na Coreia do Norte.
Entram agora em cena os
jornalistas amigos destes partidos antidemocráticos que apoiam ditaduras como a
Coreia do Norte, Cuba e a Venezuela. Esses mesmos jornalistas e comentadores
que passam o tempo a falar de direitos humanos, liberdade, valores
civilizacionais e linhas vermelhas – a piada do século. Do alto da sua
superioridade moral, apontam o dedo aos inimigos da democracia como Trump,
Bolsonaro e Ventura e decretam que quem os apoiar é um miserável fascista. Os
seus princípios éticos, porém, eclipsam-se perante os crimes dos regimes
comunistas: mais de um milhão de pessoas mortas à fome e canibalismo na Coreia
do Norte enquanto o regime investe em armas nucleares; presos políticos,
tortura, perseguição aos homossexuais, discriminação das mulheres, jornalistas
censurados em Cuba e na Venezuela – e ei-los (as) a assobiar para o lado.
Porque é exatamente isso que
acontece quando fazem de conta que o PCP é um partido democrático ou quando
levam aos ombros o BE como grande defensor do humanismo. Gostaria de os ver,
sim, a atirarem-se a estes apoiantes de ditaduras que espezinham os seus povos
com a mesma ferocidade com que se têm atirado ao CHEGA. Gostaria de os ver
perguntar aos dirigentes do PCP e do BE como podem dizer-se democráticos quando
apoiam a ditadura cubana. Gostaria de ver editoriais inflamados a denunciar que
os amigos das tiranias ou a tolerância com o terrorismo não têm lugar nas
sociedades democráticas.
Mas, da parte do jornalismo
progressista, moderninho e caviar, não vi nada disso. Pelo contrário, só vi
cumplicidade: o Muro de Berlim caíra com a ‘geringonça’ e agora, olarila, eram
todos democráticos. Muito giro, até Putin lhes estragar a festa.
Irão finalmente traçar linhas
vermelhas do lado esquerdo?
Ou seria preciso que fossem os
portugueses a sofrerem os horrores que agora os ucranianos estão a sofrer para
que os jornalistas cúmplices dos partidos antidemocráticos se dessem conta da
sua duplicidade moral e falta de vergonha?
Título e Texto: João
Cerqueira, Nascer do SOL, 7-3-2022, 20h55
Relacionados:
[L’édito de Valérie Toranian] Le courage des Russes, l’autre résistance à Poutine
Sem propostas
[Atualidade em xeque] O mundo nas mãos de um psicopata
Avião da FAB decola hoje para resgatar brasileiros na Ucrânia
[Atualidade em xeque] Números da tragédia russa na Ucrânia
[Atualidade em xeque] Analfabeto funcional
Putin, a mãe Rússia e o Ocidente
Demagogia no front
De bonnes raisons de demeurer sceptiques devant la couverture médiatique du conflit ukrainien
Les 14.000 morts du Donbass par les forces ukrainiennes, dans l’indifférence de l’UE, c’est une réalité pas une fiction
O caminho da Covid até Kiev
Boris Johnson e Presidente do Brasil defendem cessar-fogo urgente
Guerre en Ukraine : mensonges et manipulations - JT du vendredi 4 mars 2022
[Observatório de Benfica] A Resposta do Ocidente a Putin
Ora, ora... parece que o que está acontecendo na Ucrânia – crise, invasão, guerra, genocídio... – já desmascarou os dois cânceres políticos de Portugal.
ResponderExcluir